O ex-jogador e comentarista Walter Casagrande, 55, falou sobre a experiência de sua primeira Copa do Mundo sem bebidas ou drogas, o que chamou de a maior prova que um dependente químico poderia passar sozinho, e disse ter virado uma página em sua vida.
Em artigo publicado na revista Época desta semana, Casagrande relatou a trajetória até a conquista no Mundial deste ano.
Ele conta que na Copa de 2014, no Brasil, não usava mais drogas, mas ainda bebia. “Com o álcool, vinha o pensamento de usar droga”, escreveu na Época.
No ano seguinte, ele decidiu se internar em uma clínica de reabilitação, onde ficou por sete meses, até março de 2016. Era o ano da Olimpíada do Brasil, o primeiro grande evento esportivo que Casagrande passou sóbrio.
“Não saia do hotel a não ser para cobrir os jogos”, conta ele, que conheceu na época a cantora Baby do Brasil, com quem namorou por alguns meses até o Carnaval do ano passado. Foi com Baby do Brasil e sua psicóloga, Graziela, que Casagrande foi na cerimônia de encerramento da Olimpíada.
“Mas ela [Olimpíada] aconteceu no Brasil, onde eu tinha psicólogos e amigos. Precisava de um evento grande, de uma Copa do Mundo fora do Brasil, para que eu mesmo tivesse de resolver as coisas. Aí, sim, eu ia me sentir num patamar mais evoluído”, escreve o comentarista.
Dois anos depois, veio a oportunidade, a Copa do Mundo de 2018. Casagrande revela que os obstáculos começaram antes mesmo de chegar à Rússia.
A equipe de comentaristas foi primeiro para Liverpool, no Reino Unido, onde o Brasil venceu a Croácia por 2 a 0 em um amistoso da Copa. Lá, ele visitou o beco do The Cavern Club, onde uma festa acontecia com cerveja e rock. Ele foi até a porta, tirou uma foto da estátua do John Lennon e, quando todos queriam entrar, decidiu ir embora.
“Fiz uma avaliação dos prós e dos contras de entrar. Foi muito difícil para mim não entrar no The Cavern Club. Era meu sonho. Estava ali na casa do rock and roll, no berço dos Beatles e não vou entrar?”, diz o ex-jogador.
Ele conta ainda que voltou trêmulo ao hotel, chegou a pensar em voltar para o bar, mas desistiu após conversar com a psicóloga. “Levei uns três dias para confirmar que tinha feito a coisa certa.”
Na Rússia, conta Casagrande, foi tudo mais fácil. “Mesmo sendo um evento festivo, com muita gente bebendo, muitas festas, muita mulher bonita em Moscou e na Rússia toda, nada disso me seduziu. Fiz uma Copa supertranquilo, focado exclusivamente no meu trabalho.”
O comentarista revela ainda que não saia a lazer, apenas para jantar em restaurantes com a equipe da rede Globo.
“No dia a dia, eu não estava contando: “Mais um dia que eu fico sem beber.” […] E quando acabou me veio tudo isso à cabeça e fiquei emocionado mesmo. Consegui terminar essa Copa sóbrio e agora sei que pulei para um outro patamar.” (Folha Press)