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Cruz das Almas: “Depressão não significa falta de fé em Deus”, diz psicóloga em entrevista sobre a doença

Dados do relatório divulgado em fevereiro de 2017 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que a depressão afeta certa de 322 milhões de pessoas no mundo. No Brasil existe um total de 18,6 milhões de brasileiros com esse problema, sendo que mulheres são mais afetadas do que homens. No pior dos casos a depressão pode levar ao suicídio.

A psicóloga Simone Guimarães, do Instituto Cardioimagem, de Cruz das Almas explicou ao comunicador Roger Cerqueira no programa Giro de Notícias na Rádio Excelsior Recôncavo como a depressão se desenvolve e os tratamentos eficazes para vencer a doença.

Roger Cerqueira: O que é Depressão?

Simone Guimarães: “A depressão é multifatorial. Em cada indivíduo a doença não tem a mesma característica. Em cada um ela vai se desenvolver a partir de um motivo, então uma pessoa que perde um emprego, final de relacionamento, por exemplo, pode desenvolver. Fim de relacionamento é o que eu mais recebo no consultório, o paciente não aceita a perda. Na verdade, a gente não sabe lidar com perdas, tem essa questão, perda de filho para com mãe, de mãe para com filho, qualquer tipo de perda também é desencadeador para depressão.

Tem também as questões biológicas que envolvem a ausência de serotonina. O paciente com essa falta, pode desencadear depressão. Como a doença é silenciosa as pessoas não percebem. A depressão é taxativa e a nossa sociedade não está preparada para receber, então ela é entendida como frescura, e aí dizem “deixa de coisa, levante, faça isso…”, mas não é bem assim. Não é que eu não queira fazer, é que eu não tenho condições. Isso é bem diferente.

Roger Cerqueira: Como a gente identifica uma pessoa com depressão?

Simone Guimarães: A primeira coisa é o isolamento social, a pessoa não quer sair, apresenta desinteresse pelas coisas, ai pode vim perda ou aumento de apetite, insônia, tristeza, angustia. Tristeza é diferente de angustia. A angustia geralmente é aquela coisa que dói, que aperta o peito.

Não podemos classificar tristeza como depressão. Às vezes estou triste porque estou triste, não somos 100% alegres sempre, então tristeza não significa que estou com a doença. A cidade de Cruz das Almas teve um aumento bem considerável da depressão.

Roger Cerqueira: Qual o papel da psicóloga nesses casos?

Simone Guimarães: É difícil. Nós temos que entrar na subjetividade desse indivíduo. Imagine um indivíduo apático, que não permite nada. Nesse caso, a gente vai ter que buscar o autoconhecimento, ele vai ter que voltar a vida, voltar a ter alegria… É um trabalho de formiguinha. Quando a gente faz seções terapêuticas, a gente consegue, pois, a terapia ajuda muito. Tem paciente que precisa do medicamento, dos antidepressivos, mas tem paciente que só com a terapia já resolve.

Roger Cerqueira: E quando o paciente não aceita a ajuda do psicólogo?

Simone Guimarães: Paciente com depressão maior se recusa, porque existe um grande tabu com a sinceridade do psiquiatra. As pessoas erroneamente acham que o psiquiatra é aquele que vai tratar pessoas com transtornos mentais. Não. Se eu tiver com ansiedade, que é muito natural no nosso país, todos nós já nascemos ansiosos, e a ansiedade cada dia está aumentando, a cada dia a gente tem que matar um leão, então quem vai prescrever isso é o psiquiatra. Ele é visto como quem só vai tratar pessoas com transtorno mental. Na verdade, o psiquiatra é um verdadeiro aliado contra a depressão, ele vai ajudar, porque o medicamento depressivo é passado por ele.

Acontece muito de o psiquiatra passar o medicamentoso e o paciente, já se sentindo bem, larga a medicação. Isso não pode. Quem pode fazer isso é o médico. O que mais a gente percebe na questão de as pessoas recusarem o psiquiatra é devido aquele jargão “Eu não sou maluco”, mas da mesma forma que a gente vai ao ginecologista, que vai a um cardiologista, deveria ir a um psicólogo, porque você tem que cuidar da sua saúde mental. Se você não cuida, saiba que ela é somativa, então você vai guardando as suas mágoas, os seus desequilíbrios, o seu emocional… O maior processo hoje é que a gente não sabe lidar com perdas, ninguém quer perder só quer ganhar, mas as perdas são necessárias.

Roger Cerqueira: Qual o conselho que a senhora dá para uma família que passa por esse problema?

Simone Guimarães: O primeiro passo é uma receita mágica. Quando a família chega lá no consultório e diz que não sabe o que fazer, então eu digo para ter amor e um pouco de paciência, porque é uma doença silenciosa, uma doença que quem não conhece quer desistir logo da pessoa. Depressão não significa falta de fé em Deus, senão os padres não teriam. A gente tem 2 padres bem conhecidos que é o padre Marcelo Rossi e o padre Fabio de Melo, que estão ainda em fase de tratamento, então não é falta de fé em Deus. E a depressão acomete não só nos adultos, atinge crianças, adolescentes e idosos. Hoje a mulher é mais propicia, a ter, mas isso não significa que o homem não tenha.

Roger Cerqueira: A depressão leva a morte?

Simone Guimarães: Sim, infelizmente. Acontece suicídio principalmente por esse motivo. O Recôncavo da Bahia tem um índice muito alto de suicídio. A depressão é um passo desencadeador para o suicídio.

Roger Cerqueira: Tem cura, a pessoa pode se libertar?

Sim. Depende muito do indivíduo e ai pode aparecer casos que a pessoa fala “Ah eu estou com 10 anos de depressão”, isso vai depender de cada um. Tem pessoas que com 6 meses sai e nunca mais volta a ter depressão, porque a depressão é a ausência da serotonina, é o neurotransmissor conhecido como “pílula da felicidade”. Quando há ausência disso, atividades físicas ajudam muito, não precisa ir para uma academia, mas fazer uma caminhada 3 vezes na semana, entre 30 a 40 minutos já vai ajudar a desenvolver a serotonina.

Roger Cerqueira: Como evitar a depressão?

Simone Guimarães: A primeira coisa é cuidar da saúde mental. Se você cuidar, isso é perfeito. Não é ir só ao psicólogo, mas é fazer uma higiene mental. A gente trabalha a semana inteira e você não curte o final de semana. Não precisa gastar para ir a lugar algum. Até fazer uma caminhada na natureza ajuda. Para ter uma higiene mental não é levar tudo a tão sério nas coisas, não é viver só para o trabalho ou viver só para o material. Alguns dizem “eu preciso comprar minha casa, eu preciso comprar meu carro”. A gente vive sempre numa busca incessante, não vai acabar nunca, vai acabar é com a minha saúde, então uma pessoa que vive só para o trabalho deveria pensar nela mesma um pouco, porque não somos só funções. Antes de ser função existe um eu, e esse eu precisa ser cuidado.

A atividade física faz tão bem, pois o tratamento medicamentoso leva 90 dias. Uma pessoa em 3 semanas já dá conta, é por isso que quando uma pessoa começa a fazer atividades físicas começa a se sentir melhor porque está fazendo a captação de serotonina. Os meus pacientes com 3 semanas já respondem muito bem. As pessoas acham que só tomar antidepressivo vai resolver, mas não é mágica” finaliza.

Simone Guimarães atende no Instituto Cardioimagem de terça-feira a sábado, das 8h até 17h.

 

Edição: Ivisson Costa

InformeCruz

 

 

 

 

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